António Maria Correia de Sá e Benevides Velasco da Câmara nasce a 28 de Julho de 1786 e morre a 5 de Junho de 1844, na iminência de completar 68 anos.
É filho do 1.º casamento do 5.º visconde de Asseca (1760-1817), tenente-general do Exército, veador de Dona Carlota Joaquina, deputado da Junta dos Três Estados e alcaide-mor do Rio de Janeiro.
A sua mãe, D. Helena Gertrudes José de Melo, era filha dos primeiros marqueses de Sabugosa.
Entre as irmãs, conta com as duas condessas de São Lourenço, esposas do 9.º conde de São Lourenço, ministro da Guerra de Dom Miguel entre 1829 e 1834.
O 6.º visconde de Asseca constituirá, porventura, um dos mais curiosos e interessantes exemplos de militar, diplomata e aristocrata esclarecido do seu tempo, com um percurso de vida sinuoso, mas característico de um posicionamento político e ideológico conservador e contrarrevolucionário. Membro da maçonaria, serve Dom Miguel enquanto representante diplomático oficioso em Londres, de 1828 a 1831.
Assenta praça, enquanto cadete, na Arma de Cavalaria, a 1 de Novembro de 1802 (aos 16 anos). É promovido a alferes a 15 de Agosto de 1805 (aos 19 anos de idade).
Como ajudante [de ordens] do general Gomes Freire de Andrade, ingressou na Legião Portuguesa, com a qual seguiu para França. Entrou na campanha da Rússia, em 1812, mas conseguiu evadir-se e regressar a Portugal, onde foi encarcerado na Torre de Belém. A Relação de Lisboa, por acordão de 12-VI-1813, julgando-o inocente e ilibou-o das culpas que lhe imputavam (ZÚQUETE II: 326).
Terá sido durante os anos em que serve Napoleão na Legião Portuguesa frequenta a Loja maçónica Cavaleiros da Cruz, em Grenoble (França), na qual é secretário (CASTRO 2002 I: 339).
Gravemente doente, é-lhe dada baixa de serviço do Exército (no qual é promovido a tenente, a 15 de Março de 1814, aos 27 anos). Passa ao Brasil, reingressando as fileiras militares, e aí permanece durante pelo menos uma década.
De 29 de Outubro a 24 de Novembro de 1814, o seu pai, o 5.º visconde, desempenha interinamente as funções de Governador das Armas do Alentejo, tendo sido graduado em marechal-de-campo a 14 de Outubro de 1815 (CASTRO 2002 I: 338).
Exerce funções de 8.º almotacé-mor do Reino e de veador da câmara Dona Carlota Joaquina (neste caso, com nomeação de 13 de Maio de 1815), prosseguindo a “tradição e o prestígio familiar” (CASTRO 2002 I: 338).
Casa a 10 de Janeiro de 1818 com D. Rita de Castelo Branco (1790), filha dos primeiros marqueses de Belas e sétimos condes de Pombeiro. Desse modo, torna-se parente de várias figuras da elite miguelista, entre oficiais-generais, diplomatas e titulares de Secretarias de Estado. O que faz da informação disponível sobre este titular algo de potencialmente fundamental para a compreensão deste tempo e modo.
Sebastião José da Silva Dias, co-autor, com Graça da Silva Dias, de uma das obras mais importantes obras sobre este fascinante período da história de Portugal (Os primórdios da maçonaria portuguesa), inclui o nome de Asseca num grupo de militares portugueses – então capitão, afirma – escolhido para integrar a Legião Portuguesa, como são os casos de:
– o marquês de Alorna,
– Gomes Freire de Andrade,
– o marquês de Loulé,
– o marquês de Ponte de Lima,
– Álvaro Xavier da Fonseca Coutinho e Póvoas,
– o marquês de Valença
e Cândido José Xavier (DIAS 1980: 501-502).
Por outro lado, é através de Asseca que Gomes Freire de Andrade comunica o facto de ter sido libertado de uma prisão espanhola (LOPES 2003: 21).
Escreve Pedro Soares Martinez, outro historiador fundamental para entender a diplomacia e a política no século XIX português:
era mação influente e participara da Legião Portuguesa como ajudante-de-campo de Gomes Freire de Andrade, constituindo, assim, um dos numerosos exemplos de infiltrações no campo miguelista de personalidades que eram, ou tinham sido, favoráveis ao liberalismo (MARTINEZ 1986: 390, n. 105).
É nomeado par do reino a 30 de Abril de 1826, não chegando, porém, a tomar posse, devido a doença (CASTRO 2002 I. 339).
Não parece estar presente, ou fazer-se representar, no braço da nobreza às cortes tradicionais de Lisboa de 1828, entre os demais viscondes portugueses (SANTARÉM 1919 V: 525).
Exerce funções de EE/MP (Embaixador Extraordinário e Ministro Plenipotenciário em Londres, entre 1829 e 1831, regressando a Lisboa por incapacidade orçamental para manter um representante diplomática dessa categoria na capital do império britânico, passando a representação a ser assegurada por um secretário de legação (António Ribeiro Saraiva).
Por decreto de 17 de Março de 1832 é reintegrado, pela segunda vez, no Exército de Dom Miguel, enquanto tenente de Cavalaria, sendo nomeado oficial às ordens do 2.º conde de Barbacena, chefe de Estado-Maior-General.
Maria Teresa Mónica indica, nas Errâncias Miguelistas, que o visconde de Asseca obtém passaporte para sair do reino, em 1834, com destino a Bordéus (MÓNICA 1997: 47-48, n. b)
Sob o Cabralismo (A partir de 1842), o 6.º visconde de Asseca ter-se-á recusado a ser readmitido enquanto par do reino (MÓNICA 1997: 394).
Os três filhos do 6.º visconde foram D. Maria Rita (1821-1868), casada com D. José Maria da Piedade de Lencastre e Távora Silveira Castelo Branco Almeida Sá e Meneses (herdeiro do título de conde de Vila Nova de Portimão), Salvador Correia (1823-1852), o 7.º visconde, o qual contrai matrimónio com D. Mariana de Sousa Botelho Mourão e Vasconcelos, filha do 1.º conde de Vila Real, e José Correia, casado com D. Eugénia de Jesus Maria de Todos os Santos de Almeida, filha dos quartos marqueses do Lavradio (CASTRO II 339).
FONTES
– CASTRO, Zília Osório de (Dir.), Dicionário do Vintismo e do Primeiro Cartismo (1821-1823 e 1826-1828). Lisboa: Assembleia da República/Edições Afrontamento, vol. I, 2002, pp. 338-339.
– DIAS, José Sebastião e Graça da Silva Dias, Os primórdios da maçonaria portuguesa, INIC (Instituto Nacional de Investigação Científica), 1980, vol. I, t. II, pp. 501-502.
– LOPES, António, Gomes Freire de Andrade: um retrato do Homem e da sua Época. Lisboa: Grémio Lusitano, 2003, p. 21.
– MARTINEZ, Pedro Soares, História Diplomática de Portugal, Lisboa, Editorial Verbo, 1986 (2ª edição), p. 390, n. 105.
– MÓNICA, Maria Teresa, Errâncias Miguelistas (1834-43), Lisboa, Edições Cosmos, 1997.
– SANTARÉM, 2.º Visconde de, Correspondência do… Coligida, coordenada e com anotações de Rocha Martins (da Academia das Ciências de Lisboa). Publicada pelo 3º Visconde de Santarém, vol. V, Lisboa, Alfredo Lamas, Mota e Cª, Editores, 1919, p. 525.
– ZÚQUETE, Afonso Eduardo Martins (Dir., Coord. e Compil.), Nobreza de Portugal e do Brasil, vol. II, 1984 (2,ª ed.; 1.ª ed. 1960), pp. 325-326.