Daniel Estudante Protásio (Centro de História da Universidade de Lisboa)
D. Diogo de Sousa nasce a 17 de Maio de 1755 e morre a 12 de Junho de 1829 (com 74 anos), filho do marechal-de-campo D. João de Sousa (neto ilegítimo, por varonia, do 1.º marquês de Minas) e de D. Ana Joaquina Leite de Medeiros Cerveira Pestana.
Com a devida vénia, aqui fica transcrita a longa, mas exemplar passagem pela qual o autor Afonso Eduardo Martins Zúquete ilustra o percurso de D. Diogo de Sousa pela universidade de Coimbra e pelos territórios ultramarinos de Moçambique e Brasil, pelos quais ascende na hierarquia militar do Exército português com brilhantismo e glória pessoal:
Frequentou a Universidade de Coimbra, onde fez um curso muito brilhante e tomou o grau de doutor em Matemática, para seguir a carreira das armas, tradicional na sua família. Assentou praça em 1-IV-1778 [aos 22 anos] e foi promovido a alferes em 15-III-1782, a 2.º tenente em 27-II-1790 e a sargento-mor [major], com [isenção de] dois postos de acesso [1.º tenente e capitão] por ter sido nomeado governador e capitão-general de Moçambique. Ainda no mesmo ano, a 28 de Setembro, alcançou o posto de tenente-coronel, de acordo com os privilégios estatutários da Universidade de Coimbra. Em 1793 partiu para Moçambique, onde substituiu António Manuel de Melo e Castro. O seu governo dessa província ultramarina foi prejudicado pela grande falta de recursos de todo o género. Em 1798 foi transferido para o governo [da capitania] do Maranhão, onde os seus serviços foram tão bons que foram invocados como razão do seu despacho para o lugar de conselheiro do Conselho Ultramarino. Foi promovido a coronel em 31-VIII-1805 e dois anos depois teve o encargo de organizar a nova capitania do Rio Grande do sul, onde criou as vilas de S. Pedro e Rio Pardo e conseguiu por meio de acertadas medidas atrair bastantes colonos para a região. Em 1810, já promovido a brigadeiro (25-VI-1808), recebeu a difícil incumbência de proteger as nossas fronteiras meridionais do Brasil das incursões de revoltosos de Montevideu contra a Coroa de Espanha (ZÚQUETE III: 230).
D. Diogo de Sousa permanece no posto até 1814, derrotando, entretanto, as tropas do general Artigas em combate, o que é desautorizado pelo governo do Rio de Janeiro, que ordena a retirada das tropas portuguesas para o território do Rio Grande do Sul, enviando um emissário a Buenos Aires, o coronel Rademaker, para negociar um armistício. Embora substituído pelo marquês de Alegrete em 1815, Sousa é agraciado, pelo príncipe regente, enquanto vedor da Casa Real, além de promovido a marechal-de-campo a 31 de Maio de 1811 e graduado em tenente-general a 13 de Maio de 1813 (aniversário natalício de D. João). A 15 de Julho de 1815 é agraciado com o título condal e, uma semana depois, efectivado em tenente-general.
A 4 de Março de 1816 é, ainda, designado vice-rei da Índia, em nova comissão enquanto administrador ultramarino, na qual desenvolve acção “notável pela prudência, firmeza e dignidade com que se houve” (ZÚQUETE III: 231).
Perante uma conspiração de cunho vintista, a favor do novo regime revolucionário, é deposto e, depois de lidar com “invulgar aprumo moral”, alcança Lisboa a 7 de Fevereiro de 1821. Perante a notícia do regresso da corte, mantém-se em Portugal, acabando por jurar as bases da constituição da mesma forma que o rei D. João VI o fizera (ZÚQUETE III: 231-232).
Depois de restaurado o Antigo Regime, volta a conhecer protagonismo público, sendo nomeado conselheiro de guerra em 1824, presidente do Conselho Ultramarino em 1825 e par do reino em 1826.
A 3 de Março de 1828 é designado para ministro da Guerra, substituindo o 1.º conde de Vila Real, o qual se demitira. Em Janeiro de 1829, passa a integrar o conselho de Estado.
Conforme escreve Zúquete,
A expedição dirigida contra os Açores foi por ele planeada e começada a executar. A sua morte [ocorrida a 12 de Junho de 1829] foi gravemente prejudicial à causa de D. Miguel, por ser um dos mais distintos organizadores militares do seu tempo» (ZÚQUETE III: 231 e 232).
Substituído, no ministério da Guerra, pelo conde de São Lourenço, fica no ar a questão de como teriam decorrido as crises político-militares das derrotas miguelistas da expedição naval aos Açores, do episódio Roussin e da batalha do Cabo de São Vicente, se Rio Pardo não tivesse falecido em 1829. Com ele morre um determinado exemplo e modus operandi de fazer a guerra, organizar territórios e recursos e ilustrar o mundo com ilustração e competência.
Foi agraciado com os graus de Grã-Cruz da ordem militar de Cristo e de cavaleiro da ordem militar da Torre e Espada.
FONTES
– COSTA, Coronel António José Pereira (coord.). 2005. Os Oficiais do Exército Português (1807-1864). Lisboa: Biblioteca do Exército. Vol. II, t. I.
– ZÚQUETE, Afonso Eduardo Martins (Dir., Coord. e Compil.), Nobreza de Portugal e do Brasil, Lisboa, vol. III, 1984 (2.ª ed.; 1.ª ed. 1961), pp. 230-232.