Projecto Arquivos e Estudos do Miguelismo

Louriçal, 4.º marquês de (e 8.º conde da Ericeira)

Daniel Estudante Protásio (Centro de História da Universidade de Lisboa)

Luís Eusébio Maria de Meneses Silveira, 4.º marquês de Louriçal e 8.º conde da Ericeira, nasce em Roma a 14 de Agosto de 1780 e morre a 3 de Junho de 1844 (cantes de perfazer 64 anos), filho dos terceiros marqueses de Louriçal e sextos condes da Ericeira.

O 3.º marquês e 4.º conde (1727-1787), D. Henrique de Meneses, exerce primeiro funções de cónego e monsenhor da Patriarcal, mais tarde, por morte do seu irmão, herdeiro do título, é dispensado dos votos eclesiásticos professados e volta à vida civil. Representa Portugal, enquanto diplomata, nas cortes de Turim, Roma e Madrid (ZÚQUETE II: 701-702). Falece a 29 de Maio de 1787 (com apenas 50 anos), quando Luís Eusébio Maria, seu filho, vai a caminho dos 7 anos de idade.

O 4.º marquês, agraciado com os títulos nobiliárquicos de seus maiores por Carta de 4 de Agosto de 1790 (a poucos dias de completar 10 anos), é nomeado conselheiro de Dona Maria I a 13 de Setembro seguinte.

Torna-se, desse modo, coudel-mor da Casa Real.

A 23 de Julho de 1791 recebe a mercê de cavaleiro da Ordem de Cristo, professando a 27 de Setembro de 1797. Foi, também, comendador da Ordem de Cristo.

Assenta praça enquanto cadete do Regimento de Lippe (Infantaria 1) a 15 de Junho de 1798, aos 17 anos.

Da sua ficha militar consta que tinha conhecimentos de matemática (Sandra Lobo, in CASTRO 2002 II: 705).

Casa a 15 de Janeiro de 1799 (aos 18 anos, menor de idade) com D. Joaquina de Meneses (1782-1846), filha do 5.º marquês de Marialva (famoso cavaleiro), tornando-se, assim, cunhado do 6.º marquês de Marialva, do 2.º duque de Lafões e do 1.º marquês de Loulé (8.º conde de Vale de Reis), importantes personalidades e players da época.

Um dia antes do início das hostilidades da Guerra das Laranjas, a 19 de Março de 1801, o marquês de Louriçal é promovido a capitão agregado da 1.ª plana da Corte, por decreto de 19 de Março e 10 de Abril. É destacado para exercer funções de ajudante-de-campo do duque de Lafões (1719-1806), seu cunhado. A 24 de Junho seguinte regressa ao regimento de Lippe.

Por carta patente de 20 de Fevereiro de 1802 passa à Infantaria 10, regressando ao Regimento de Lippe por decreto de 15 de Agosto de 1805.

Tendo uma saúde débil, acusando graves problemas de estômago, esteve entre 1805 e 1807 por diversas vezes de licença para poder ser tratado nas Caldas (Sandra Lobo, in CASTRO 2002 II: 705).

Por despacho do Conselho de Guerra de 28 de Janeiro de 1808, no contexto da reestruturação do Exército ordenada por Junot, é demitido do serviço a 1 de Fevereiro desse ano, aos 27 anos de idade.

Aquando da revolta nacional contra o jugo francês, junta-se ao Exército português, sendo novamente agregado, a 5 de Janeiro de 1809 (aos 28 anos), a Infantaria 10. Em Maio seguinte, aquando de um ataque das forças anglo-portuguesas comandadas por Arthur Wellesley às tropas de Soult, no Porto, o marquês de Louriçal

resolveu, por motivos desconhecidos, ausentar-se do regimento, pelo que Alexandre Campbell mandou prendê-lo. Wellesley acabou por intervir, mandando soltar o marquês e salvando-o de graves consequèncias, não sem que antes lhe dirigisse, em carta de 24 de Maio, uma severa reprimenda em frente aos oficiais do seu regimento (S.L., in CASTRO 2002 II: 705).

Louriçal participa na campanha em que o futuro de Wellington tanta tomar Madrid aos franceses.

Em 1811 é o marquês de Louriçal mandado destacar ajudante-de-campos de D. António Soares de Noronha, tenente-general, governador das Armas da Corte e província da Estremadura (1809).

A 30 de Maio de 1816 é Louriçal promovido a ajudante do duque de Lafões e major do Estado-Maior (30 de Junho de 1816), posto do que qual pede escusa em 22 de Dezembro de 1820, já depois da revolução de 24 de Agosto desse ano.

Par do reino por carta de 30 de Abril de 1826, tomando posse a 31 de Outubro seguinte. É um dos membros da câmara alta que, poucos dias depois, a 3 de Novembro, recusa a proposta governamental de regimento da câmara alta. Ao longos dos anos de 1826 a 1828 não participa dos debates, preferindo expressas opiniões

por meio de algumas votações nominais e de documentos em que colocou a sua assinatura, tendo normalmente estado ao lado da maioria da câmara. […] A 25 de Janeiro [de] 1828 votou a favor da pronúncia do Marquês de Fronteira, dos condes da Cunha e da Taipa, e do Bispo de Elvas, por envolvimento nas Archotadas. E, finalmente, a 1 de Março assinou a sentença que declarava esses pares inocentes do crime de rebelião e sedição. […] pertenceu á deputação, nomeada a 25 de Janeiro, para saudar a chegada de D. Miguel” [Sandra Lobo, in CASTRO 2002 II: 707).

Participa na reunião da nobreza de 25 de Abril de 1828, pela qual é solicitada, a Dom Miguel, a assunção da coroa portuguesa (CASTRO 2002 II: 706).

Membro do braço da nobreza nas cortes tradicionais de Lisboa de 1828,  o seu nome surge a seguir aos dos duques de Cadaval e de Lafões, e antes do marquês honorário de Cadaval (SANTARÉM 1919 V: 524).

Pela sua morte, a 3 de Junho de 1844, sem descendência, o título extingue-se e a Casa Senhorial de Louriçal, com o respectivo património, passa para os condes de Lumiares. Conforme escreve S. L., termina

com D. Luís o título criado em 1740 em reconhecimento dos serviços do militar e erudito D. Luís de Meneses, que por duas vezes fora Vice-Rei da Índia (Sandra Lobo, in CASTRO 2002 II 705).

Não se pode concordar com a opinião de Sandra Lobo, quando escreve que

Quebrando a tradição herdeira de seus maiores, foi o 4.º Marquês de Louriçal uma personagem apagada na sociedade portuguesa coeva, sendo significativo que se encontra ausente das duas mais importantes Memórias dos seus pares oitocentistas, salvo numa referência feita de passagem pelo Conde do Lavradio [S.L., in CASTRO 2002 II: 704).

De facto, sabendo-se que eram inimigos políticos dos miguelistas os memorialistas marquês de Fronteira e conde do Lavradio, não se pode considerar que o relativo apagamento narrativo do marquês de Louriçal seja mais significativo do que o de outros apoiantes da causa de Dom Miguel, numa época de consecutivas guerras civis, como as de 1826-1827, 1828 e 1832-1834.

FONTES

– LOBO, Sandra, in CASTRO, Zília Osório de (dir.), Dicionário do Vintismo e do Primeiro Cartismo (1821-1823 e 1826-1828), vol. II, Lisboa, Assembleia da República/Edições Afrontamento, 2002, pp. 704-706.
 SANTARÉM, 2.º Visconde de, Correspondência do… coligida, coordenada e com anotações de Rocha Martins (da Academia das Ciências de Lisboa) publicada pelo 3º visconde de Santarém, vol. V, Lisboa, Alfredo Lamas, Mota e Cª, 1919, p. 524.
– ZÚQUETE, Afonso Eduardo Martins (Dir., Coord. e Compil.), Nobreza de Portugal e do Brasil, Lisboa, vols II, 1984 (2.ª ed.; 1.ª ed. 1960), pp. 701-702.

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