Jacob Frederico Torlade Pereira de Azambuja nasce em Setúbal a 6 de Dezembro de 1773 e morre a 6 de Maio de 1840, aos 66 anos, filho de João Inácio Pereira de Azambuja, cavaleiro da Ordem de Cristo, e de D. Elisabete Luísa Torlade.
Afilhado de Anselmo Inácio da Cruz Sobral, morgado de Sobral de Monte Agraço, e da sua esposa genovesa, Maria Madalena Antónia Crocco.
É o seu avô materno, o alemão Jacob Frederico Torlade (Hamburgo, 1721-Setúbal, 1785), quem lhe paga os estudos em França, antes de 1789, e depois num colégio alemão em Estocolmo.
Autor, negociante e diplomata português, destaca-se durante as primeiras décadas do século XIX, sob diferentes regimes políticos.
Caixeiro na Torlades & Companhia em 1790, serve de intérprete, dominando o sueco, o alemão, o inglês e o francês (TEIXEIRA 2005:144).
Obtém mercê régia para casar em 1797, de D. Maria I, por ainda ser menor de 25 anos.
Desempenha funções consulares em Setúbal, representando a Rússia a partir de 1799 e a República de Ragusa (Dubrovnik, na actual Croácia) em Setúbal, pelo menos enquanto aquele estado não foi ocupada (1806) e, depois, abolido pela França napoleónica (1808).
É possível que logo a 25 de Fevereiro de 1801, com a corte ainda na metrópole, Torlade de Azambuja já tenha submetido ao regente uma Nota dirigida a El-Rei [sic], conforme o mais antigo de um precioso conjunto de manuscritos hoje salvaguardados na Secção de Reservados da Biblioteca Nacional de Portugal (BNP, SR, MSS. 95, n.º 57).
Em meados de 1805, Torlade de Azambuja estabelece em Lisboa a sociedade Torlade, A. Lindt & C.ª (PEREIRA 2005: 145).
A 29 de Novembro de 1807, um dia antes da entrada, na capital, das tropas francesas comandadas por Junot, leva a família mais próxima (esposa e filhos) a bordo do seu navio, Almirante Nelson, em direcção à Grã-Bretanha.
Em Agosto de 1808 encontra-se em Londres, e um ano depois, segue com a família para o Brasil. Uma vez no Rio de Janeiro, ingressa enquanto oficial na Secretaria de Estado da Repartição dos Negócios da Marinha e Domínios Ultramarinos.
De 1810 existem dois originais autógrafos deste funcionário régio, empenhado em reflectir sobre progressos económicos: uma Memória sobre a cunhagem da moeda, possivelmente de 20 de Fevereiro (21 pp., BNP, SR, MSS 95, n.º 59); e um Plano para um regulamento de polícia para o porto de São Sebastião do Rio de Janeiro, de 23 de Outubro seguinte (32 fls., BNP, SR, MSS 95, n.º 56).
Ainda em 1810 recebe o grau de cavaleiro da Ordem de Cristo (pelo seu patriotismo); é também agraciado com a Flor de Lis; e feito cavaleiro de Nossa Senhora da Conceição (ANUÁRIO… III 2006: 1392).
Depois de Dom João VI ascender ao trono, em 1816, Torlade de Azambuja serve como tradutor de línguas estrangeiras para os documentos que vão a despacho régio.
Após a revolução portuense de 24 de Agosto de 1820 e bahiana de 21 de Fevereiro, com início do período constitucional do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, transita da Secretaria de Estado dos Negócios da Marinha e Domínios Ultramarinos para a dos Negócios Estrangeiros
A 13 de Abril de 1821, Jacob Francisco é nomeado secretário da legação portuguesa em Estocolmo (Suécia e Noruega). Nesse mesmo período de regresso da corte a Lisboa, é agraciado com os títulos de Oficial da Casa Real e de cavaleiro da Ordem de Cristo.
Parte para Estocolmo a 21 de Novembro de 1821, na qual Caetano Alberto, seu irmão Caetano, é adido à legação. Nesse contexto, redige, nesse reino escandinavo, em 1822, o manuscrito Noções Estatísticas sobre Suécia e Noruega, de 19 páginas, (existente em BNP, SR, COD. 13063).
Nesse mesmo ano de 1822, é elogiado, enquanto poliglota, na obra de Adrien Balbi então publicada.
A 3 de Julho de 1823, após a Vila-Francada e o final do triénio constitucional vintista, transita para a legação em Viena de Áustria, com a mesma função de secretário de legação.
Por Alvará de dia 14 do mesmo mês e ano, é nomeado Moço de Câmara (ANUÁRIO… 2006 III: 1392).
A 17 de Dezembro de 1823 ascende a encarregado de negócios em Madrid, o que a 24 de Abril seguinte (de 1824) se transforma em nomeação equivalente, mas para Washington.
Porém, de 20 de Dezembro de 1824, e de Lisboa, existe um Parecer de…, a pedido da coroa, sobre possíveis alterações ao regime de comércio externo praticado no reino (BNP, SR, MSS 95, n.º 44, 7 pp.). O que parece indicar que não partira para os Estados Unidos. O mesmo se pode deduzir do facto de que data da Rua Direita do Colégio dos Nobres e de 24 de Setembro de 1825 o texto, também ele manuscrito, do Relatório sobre as relações comerciais entre Portugal e os Estados Unidos da América, destinado à coroa (7 pp, em BNP, SR, MSS 60, n.º 4, doc. 2).
Ainda do reinado de Dom João VI data a Carta Régia de 6 de Fevereiro de 1826, pela qual passa a Fidalgo [de Cota] de Armas (ANUÁRIO… 2006 III: 1392).
Uma Carta de… justificando a sua ausência no juramento da constituição, de 1 de Agosto seguinte, aparenta a dificuldade sentida ao não jurar a Carta Constitucional outorgada no mês de Abril anterior (1 p., em BNP, SR, MSS, 98, n.º 103).
É datada de 31 de Março de 1828 a carta de crença de Jacob Frederico Torlade Pereira de Azambuja, em francês (ANTT, F/MNE, Liv. 159).
Torlade de Azambuja chega a Liverpool a 6 de Julho seguinte, juntamente com o «Adido da minha Legação, Januário Cardoso de Freitas», estando ajustadas as passagens de ambos para Baltimore (Ofício S.N,. dessa data, para o Visconde de Santarém, ANTT, F/MNE, Cx 553). O ofício n. 1, de Baltimore, assinala que a 26 de Agosto chega a essa cidade norte-americana, desejando partir para Washington D.C. (ANTT, F/MNE, Cx 553).
A 3 de Outubro, Torlade de Azambuja envia ao visconde de Santarém uma Memória de… sobre a pesca de bacalhau (BNP, SR, MSS 95, n.º 48).
Data de 2 de Agosto de 1829 o ofício de Torlade de Azambuja para o visconde de Santarém, pelo qual informa estar ao corrente da demissão, que lhe fora passada, de «todos os empregos, honras e dignidades de que se achava revestido», devido a promessas incumpridas de reconhecimento diplomático e a rumores de “escandalosa conduta” (Despacho Santarém-Torlade de 2-8-1829 e Confidencial Torlade-Santarém de 13-10-1829). Apenas o restabelecimento de relações diplomáticas entre os Estados Unidos e Portugal, a 2 de Outubro seguinte, o salva da desgraça.
Exerce, de 2 de Outubro de 1829 a 16 de Julho de 1834, as funções de encarregado de negócios em Washington (MAGALHÃES 1991: 333 e TEIXEIRA 2005: 143-144).
Em 1835 é publicada a Memória sobre a pesca do bacalhau, oferecida à companhia de Pescarias Lisbonense…. Na p. 5 desse opúsculo escreve Torlade de Azambuja que
Por isto, é esta pescaria reputada pelos autores ingleses mais preciosa que as minas do Peru. O Dr. [Benjamin] Franklin [1706-1790] lhe chamava, por ênfase, a agricultura do oceano; e o barão de Bielfeld [1717-1770] observa que feliz seria a nação que pudesse participar das vantagens que ela produz (Azambuja 1835: 5, citando Bielfeld, Institution Politique, t. I, parte II, capítulo XI, § 50).
Em 1837-38, o nome de Torlade de Azambuja é referido como eventual membro de um governo fusionista, composto ainda por dois outros ministros, Luís de Vasconcelos e o marquês brasileiro de Aracati (1776-1838), enteado da marquesa de Alorna (1750-1839). Quem o sugeria enquanto tal era um putativo partido aristocrático nacional, que almejava que a rainha Dona Maria II fosse soberana absoluta, segundo MÓNICA 1997: 211-212 e n. b).
Em 1839, é vitimado por uma apoplexia, que o deixa prostrado durante meses.
Em 1840, seria membro da Sociedade Promotora da Indústria Nacional, da qual o duque de Palmela foi um dos principais intervenientes e defensores.
Morre a 6 de Maio de 1840, aos 66 anos, publicando o Portugal Velho, órgão do partido miguelista, o respectivo obituário.
A litografia que sobrevive de Jacob Frederico Torlade de Azambuja contém, infelizmente, datas de nascimento e morte inexactas (TEIXEIRA 2005: 147).
Inocêncio Francisco da Silva menciona as seguintes litografias: enquanto oficial da Secretaria dos Negócios Estrangeiros, datada, aproximadamente, de 1828, e da autoria de Sendim, na Oficina Régia, de 22 centímetros (SILVA 1862 VII: 116 e ARANHA 1883 X: 113).
FONTES
Manuscritas
Biblioteca Nacional de Portugal (BNP), SR (Secção de Reservados)
Manuscritos de Jacob Frederico Torlade Pereira de Azambuja:
MSS (Manuscritos)
– 60, n.º 4, doc. 2 (Relatório sobre as relações comerciais entre Portugal e os Estados Unidos da América, destinado à coroa (7 pp).
– 95, n.º 44 (Parecer de…, a pedido da coroa, sobre possíveis alterações ao regime de comércio externo praticado no reino, 7 pp.).
– 95, n.º 48 (Memória de… sobre a pesca de bacalhau…).
– 95, n.º 56, Plano para um regulamento de polícia para o porto de São Sebastião do Rio de Janeiro, de 23 de Outubro de 1810 (32 fls.).
– 95, n.º 57, Nota dirigida a El-Rei [sic], de 25 de Fevereiro de 1801.
– 95, n.º 59, Memória sobre a cunhagem da moeda, possivelmente de 20 de Fevereiro de 1810 (21 pp.)
– 98, n.º 103 (Carta de… justificando a sua ausência no juramento da constituição, de 1 de Agosto de 1826, 1 p.)
COD
– COD. 13063, Noções Estatísticas sobre Suécia e Noruega, de 1822 (19 pp.).
Arquivo Nacional da Torre do Tombo (ANTT), Fundo Ministério dos Negócios Estrangeiros (F/MNE)
– Cx. 553, Legação de Portugal nos Estados Unidos da América (1824-1829), contém ofícios de Jacob Frederico Torlade Pereira de Azambuja dirigidos ao 2.º Visconde de Santarém.
– Liv. 159, Legação de Portugal nos Estados Unidos, contém ofícios do 2.º Visconde de Santarém dirigidos a Jacob Frederico Torlade Pereira de Azambuja.
Impressas
– ANUÁRIO da Nobreza de Portugal, Lisboa, Instituto Português de Heráldica, t. III, 2006, p. 1392.
– ARANHA, [Pedro Wenceslau de] Brito, Dicionário bibliográfico PORTUGUÊS. Estudos de Inocêncio Francisco da Silva aplicáveis a Portugal e Brasil continuados e ampliados por Brito Aranha em virtude do contrato celebrado com o governo português, t. X, Lisboa: Imprensa nacional, 1883, p. 113.
– AZAMBUJA, Jacob Francisco Torlade Pereira de, Memória sobre a pesca do bacalhau, oferecida à companhia de Pescarias Lisbonense por seu autor, o conselheiro… e mandada imprimir pela direcção da mesma Companhia, Lisboa, Tipografia de Desidério Marques Leão, 1835.
– MAGALHÃES, José Calvet de, História das Relações Diplomáticas entre Portugal e os Estados Unidos da América (1776-1911), Mem Martins: Publicações Europa-América, S.D. (copyright 1991), p. 333.
– MÓNICA, Maria Teresa, Errâncias Miguelistas (1834-43), Lisboa, Editorial Cosmos, 1997, p. 211-212, n. b).
– SILVA, Inocêncio Francisco da, Dicionário bibliográfico Português. Estudos de… aplicáveis a Portugal e Brasil, t. VII, Lisboa: Imprensa Nacional, 1862, p. 116.
– TEIXEIRA, Pedro O’Neill, Amigos da Dinamarca. Um olhar sobre a vida nas sociedades portuguesa e dinamarquesa do século XIX. Hans Christian Andersen, Dal Borgo Di Primo, os Wulff e a ligação com a família O’Neill de Portugal, Lisboa, Tribuna da História, 2005, pp. 143-147.