Conhecido enquanto Silveirinha, João Maria Borges da Silveira é um dos exemplos mais curiosos de cripto-diplomatas portugueses do século XIX português.
Depois de constar, em Paris, a publicação do decreto de 3 de Julho de 1827, pelo qual Dom Pedro IV designa Dom Miguel enquanto regente e lugar-tenente em Portugal, afirma Luz Soriano que Borges da Silveira é um dos portugueses que acorre à Cidade-Luz, na esperança de falar com o infante, aquando do regresso a Lisboa (SORIANO 1882: 173).
A 28 de Fevereiro de 1829, o 7.º conde da Ponte oficia ao 2.º visconde de Santarém o pedido para secretário de legação do seu tio, Francisco de Saldanha e Oliveira Daun (futuro conde de Azinhaga); no seu impedimento “empenho-me pelo Silveira, como já te disse” (SANTARÉM 1919 II: 225). Em consequência, a 26 de Março seguinte, chega a Paris, proveniente de Londres, o adido João Maria Borges da Silveira de legação na capital francesa (mais tarde, secretário de legação na mesma cidade), altura em que denuncia o conde da Ponte junto do conde de Ofalia, por aquele ter recebido o diplomata brasileiro conde de Tabauté, afinal seu irmão. O diplomata espanhol queixa-se desse facto ao governo madrileno (SANTARÉM 1919 II: 291, ofício de 26 de Março de 1829).
Já sem ilusões quanto à personalidade de Borges da Silveira, o conde da Ponte, em ofício para Santarém, sem data, mas de 1832 ou 1833, escreve o seguinte:
Silveira está muito unido com o ministro Heliodoro [de Araújo Jacinto Carneiro]; este último expediu há três duas para Portugal um correio extraordinário!!! Dizem [uns] que para Braga, outros que para Lisboa. Este figurão [Silveira] tem por sina estar sempre em missão secreta a latere dos ministros de Londres a Paris. Já esteve espião em Londres do Palmela e do Funchal; também o foi do anjo do [6.º marquês de] Marialva [1774-1823], que dele se mandou queixar para a corte do Rio [de Janeiro]. Hoje está de novo em Paris. Enfim, é figurão indispensável no reino das intrigas (SANTARÉM 1919 V: 215).
Em 1841, Silveira perde num naufrágio todos os decretos de D. Miguel que transporta, quando em trânsito de Roma, acabando, porém, por recuperá-los (MÓNICA 1997: 62, n. a).
“As intrigas entre os emigrados continuavam imparáveis”: António Ribeiro Saraiva estaria furioso com a interpretação que Silveira fizera das suas intenções quando fora a Roma (MÓNICA 1997: 368, n. a).
– Em 1855 o “famoso intrigante” regressava a Lisboa, ouvindo o visconde de Santarém dizer que Silveira ia oferecer os seus serviços a D. Pedro V, comentando: “São famosos os que ele lhe poderá prestar!” (SANTARÉM VIII: 345, carta de 12 de Setembro de 1855).
FONTES
– MÓNICA, Maria Teresa, Errâncias Miguelistas (1834-43), Lisboa, Edições Cosmos, 1997, pp. 62, n. a) e 368, n. a).
– SANTARÉM, 2.º Visconde de, Correspondência do… Coligida, coordenada e com anotações de Rocha Martins (da Academia das Ciências de Lisboa). Publicada pelo 3º Visconde de Santarém, vols. II, V e VIII, Lisboa, Alfredo Lamas, Mota e Cª, Editores, 1918-1919.
– SORIANO, Simão José da Luz, História da Guerra Civil e do Estabelecimento do Governo Parlamentar em Portugal… por…. Lisboa: na Imprensa Nacional. Terceira Época, t. II, parte II, 1882, p. 173.