Daniel Estudante Protásio (Centro de História da Universidade de Lisboa)
António José de Melo da Silva César de Meneses nasce a 17 de Novembro de 1794 e morre a 14 de Setembro de 1863 (aos 68 anos de idade), filho dos segundos marqueses de Sabugosa, título no qual nunca se encartará, por ser legitimista.
O seu pai, 2.º marquês de Sabugosa e 8.º conde de São Lourenço (1763-1839), foi tenente-general do Exército, alferes-mor do reino, membro do Conselho de Guerra e presidente do Conselho Ultramarino (ZÚQUETE III: 248).
Era, igualmente, bisneto do 6.º conde de São Lourenço (1725-1804), “homem de grande erudição e fundador da biblioteca dos marqueses de Sabugosa”, autor de importantes opúsculos acerca da monarquia portuguesa, cujo elogio fúnebre é pronunciado por José Agostinho de Macedo (ZÚQUETE III 1984: 332).
O 9.º conde de São Lourenço assenta praça, enquanto cadete do regimento de Cavalaria do Cais, a 6 de Julho de 1804, ainda antes de completar 10 anos. A 21 do mesmo mês é promovido a capitão, “por ser filho de um Conselheiro de Estado, com o exercício de ajudante-de-ordens de seu pai, governador e capitão-general dos Açores” (ZÚQUETE III: 333).
Contrai matrimónio a 18 de Agosto de 1811, aos 16 anos, com D. Maria Teresa do Resgate de Sá (1794-1832), filha dos quintos viscondes de Asseca, e irmã do 6.º visconde de Asseca.
Ascende ao posto de major a 4 de Maio de 1813 (aos 18 anos), com exercício de ajudante-de-ordens de William Carr Beresford, marechal do Exército português. Participando na Guerra Peninsular, recebe as medalhas de 3 campanhas da Guerra Peninsular e das batalhas dos Pirenéus (de 25 de Julho a 2 de Agosto de 1813), Orthez (27 de Fevereiro de 1814) e e Toulouse (10 de Abril de 1814). É também comendador da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa e cavaleiro da Ordem de Torre e Espada.
Promovido a tenente-coronel a 12 de Outubro de 1815, ainda antes de atingir a maioridade (21 anos).
Atinge o posto de coronel 3 anos anos depois, a 15 de Outubro de 1818 (aos 24 anos; COSTA 2005: 198). Em 1822 é “separado do serviço como desafecto às ideias liberais” (vintistas), segundo Zúquete III: 333. É reintegrado mais tarde (provavelmente após a Vila-Francada), ficando a comandar o regimento de Cavalaria 4, o qual exerce até 1826.
Depois da outorga da Carta Constitucional, é promovido a brigadeiro a 28 de Dezembro de 1826, aos 32 anos, ascendendo, muito jovem, a oficial general do Exército. É-lhe então confiado o Governo das Armas do Porto.
É representado pelo pai, marquês de Sabugosa, no braço da nobreza das cortes tradicionais de Lisboa de 1828 (SANTARÉM 1919: 524).
Depois da morte do conde de Rio Pardo (1755-1829), é nomeado ministro da Guerra de Dom Miguel a 20 de Fevereiro de 1829, aos 34 anos de idade. É um dos ministros mais jovens desse 1.º governo miguelista, tal como o 2.º visconde de Santarém (nascido a 18 de Novembro de 1791, 37 anos) e o 6.º duque de Cadaval (nascido a 7 de Abril de 1799, 29 anos), além do regente e monarca (vindo ao mundo a 26 de Outubro de 1802, 26 anos).
Por ocasião da crise política, diplomática e naval ocorrida entre Maio e Agosto de 1831, surge um conflito de competências entre São Lourenço e o seu primo, o conde de Barbacena, chefe de Estado-Maior-General do Exército (e, enquanto tal, seu subordinado). Assim, a propósito da preparação das defesas da barra do Tejo, São Lourenço, alegadamente
sabendo muito pouco, não podia fazer nada por si; e o outro [Barbacena], que é capaz de pôr a barra em conveniente defesa, sendo só chefe de estado-maior, não podia fazer nada sem ordem do ministro da Guerra, a quem competia fazê-lo. O dito ministro [São Lourenço], porém, tendo do outro uma espécie de ciúme, não o tinha incumbido daquelas diligências necessárias e tinha ido mandado fazer as coisas com a brandura e ignorância militar que lhe era[m] própria[s] (SARAIVA I 1915: 70; Negrito meu).
A 27 de Agosto de 1830 regista-se uma sugestão, por parte da facção ultrarrealista, de substituir os condes de Basto de São Lourenço, nos ministérios da Marinha e da Guerra, pelo brigadeiro João Galvão Mexia de Sousa Mascarenhas (cap. 1828-34, p. 81)
A 12 de Julho de 1831, o diplomata António Ribeiro Saraiva refere, no seu Diário, a existência em Lisboa “de uma grande intriga contra Santarém”. De Francisco de Zea Bermúdez, representante espanhol em Londres, escreve Rocha Martins que entrou com Ribeiro Saraiva numa intriga cujo fim era substituir os ministros da Guerra [São Lourenço] e dos Estrangeiros [Santarém] […] dando esta última pasta ao duque de Cadaval, tendo alguém que o ajudasse, que seria o dito Saraiva” (SARAIVA 1915: 41 e SANTARÉM 1918 I: 318, n. 1).
Ascende ao posto de marechal-de-campo a 22 de Outubro de 1832, antes de completar 38 anos de idade (CARRILHO 2002: 6). Com a mesma idade falece a condessa, a 13 de Novembro seguinte.
Em Fevereiro de 1833 assume a chefia do Exército de Operações do Porto, sendo interinamente substituído pelo conde de Barbacena. Virá, porém, a ser substituído pelo conde de Bourmont, sem que a Cidade Invicta tenha caído nas mãos das tropas miguelistas.
A 21 de Novembro seguinte, é promovido a tenente-general do Exército (CARRILHO 2002: 6)
Exerce funções de ministro da Guerra até a 27 de Maio de 1834, dia em que é assinada a convenção de Évora Monte.
Aparece como amnistiado por decreto de 28 de Maio de 1835, sendo despromovido de tenente-general a brigadeiro graduado (Carrilho 2005: 83). isto é, a coronel efectivo, posto ao qual fora promovido a 15 de Outubro de 1818.
Casa, em segundas núpcias, a 11 de Abril de 1836, com a cunhada, D. Maria Vitória do Resgate Correia de Sá (1813-1870), filha do 5º visconde de Asseca.
Com a restauração da Carta Constitucional em 1842, o conde de São Lourenço solicita o reingresso na câmara dos pares, o que lhe é negado (MÓNICA 1997: 75 e 177). Sucede, porém, que quem fora par do reino, representando a Casa de Sabugosa, fora o 2.º marquês de Sabugosa (1763-1839), e não o seu filho, o 9.º conde de São Lourenço, pelo que fica no ar se se tratava do filho do antigo par, se do neto, o 10.º conde de São Lourenço e 3.º marquês de Sabugosa (1825-1897), par do reino (Zúquete III: 249).
Reforma-se o 9º conde com o posto de brigadeiro em 1851.
FONTES
– CARRILHO, Luiz Pereira. Os Oficiais d’El-Rei Dom Miguel, Lisboa: Edições Guarda-Mor, 2002 (reedição fac-similada da 1ª edição, de 1856).
– COSTA, Coronel António José Pereira (coord.). 2005. Os Oficiais do Exército Português (1807-1864). Lisboa: Biblioteca do Exército. Vol. II, t. I.
– MÓNICA, Maria Teresa, Errâncias Miguelistas (1834-43), Lisboa, Edições Cosmos, 1997.
– SANTARÉM, 2.º Visconde de. Correspondência do… Coligida, coordenada e com anotações de Rocha Martins (da Academia das Ciências de Lisboa). Publicada pelo 3º Visconde de Santarém, vols. I e V, Lisboa: Alfredo Lamas, Mota e Cª, Editores, 1918 e 1919.
-SARAIVA, Diário de António Ribeiro… (1831-1888), tomo I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1915.
– ZÚQUETE, Afonso Eduardo Martins. Nobreza de Portugal: Bibliografia, Biografia, Cronologia, Filatelia, Genealogia, Heráldica, História, Nobiliarquia, Numismática, vol. III, Lisboa, Enciclopédia Editora, 1984 (1.ª ed., 1961).