Projecto Arquivos e Estudos do Miguelismo

Atalaia, 10.º conde de

 

Daniel Estudante Protásio (Centro de História da Universidade de Lisboa)

D. António Manoel de Noronha (1803-1886), 10.º conde de Atalaia (ou Atalaya), nasce a 19 de Julho de 1803 e falece na quinta de Santa Marta (Almeirim) a 31 de Julho de 1886, aos 83 anos.

Foi oficial de Cavalaria, do que não existe documentação directa (processo individual) no Arquivo Histórico Militar.

Era filho do 4º marquês de Tancos (9.º conde de Atalaia), Ajudante-general do Estado-Maior-General do Exército, sob D. Miguel.

O título condal foi renovado na sua pessoa quando tinha 11 anos, por decreto de 6 de Fevereiro de 1818 (data da coroação de D. João VI) e carta régia de 16 de Maio de 1823.

A 1 de Janeiro de 1826 contrai matrimónio com D. Margarida Luísa de Sousa Coutinho, sua, prima, filha e herdeira dos segundos marqueses de Borba.

Foi do Conselho Régio de Dom João VI e par do reino em 1826 “por sucessão de seu pai” (Carta de 30 de Maio desse ano; Zúquete III 331).

Quando foi criado o corpo dos Voluntários Realistas, força paramilitar repressora antiliberal, a 26 de Maio de 1826, por causa da Belfastada, Atalaia integrou o respectivo Estado-Maior. Chefiava-o o duque de Cadaval, ministro assistente ao despacho (presidente do conselho de ministros), com o título de coronel-general e a patente de marechal-de-campo graduado do Exército. Integravam-no, a nível de brigadas, com a patente de brigadeiros graduados de milícias (comandantes de brigadas), o 3º duque de Lafões (irmão de Cadaval) e o 4º marquês de Pombal. Atalaia era um dos quatro condes, com a patente de coronel graduado de milícias, encarregues de comandarem outros tantos batalhões. Os restantes titulares eram os condes de São Vicente, de Mesquitela (armeiro-mor) e o conde-barão de Alvito.

No dia seguinte, a 27 de Maio, o seu pai e tio, os marqueses de Tancos e de Belas, respectivamente marechal-de-campo e coronel, são designados Ajudante-general do Estado-Maior-General do Exército (Tancos) e ajudante-de-ordens de D. Miguel (Belas).

Estas três nomeações, aquando do início da guerra civil de 1828, podem ser interpretadas como forma de valorização dos elementos da Família por parte da coroa portuguesa. No caso de Atalaia, antes de atingir a maioridade legal (alcançada a 19 de Julho de 1828).

O conde de Atalaia manteve-se íntegro a si mesmo e ao ideário miguelista. Com a morte do pai, o marquês de Tancos, a 18 de Agosto de 1833, jamais este título seria renovado, mantendo-se o de conde. Apesar disso (o que aconteceu com vários tradicionalistas), Atalaia serviu a causa monárquica enquanto governador-geral de Angola em 1839.

Foi um distinto e entusiasta amador de música. Tocava primorosamente oboé e fez parte das excelentes orquestras de amadores organizadas pelo [17.º] conde de Redondo [1797-1863]. Também tocava flauta e fagote, que aprendera com um dos irmãos Herédias, solistas de São Carlos. Para o Conde de Atalaia escreveu Joaquim Casimiro, por ele ser extraordinário músico, vários trechos, em especial um célebre solo de corn-inglês nos ofícios de Semana Santa, promovidos pelo referido Conde de Redondo (Zúquete II 331).

Conheceu uma vida longeva, falecendo aos 83 anos.

 

FONTES

– CARRILHO, Luiz Pereira, Os Oficiais d’El-Rei Dom Miguel (Introdução e Índices Nuno Borrego e António de Mattos e Silva), Lisboa, Edições Guarda-Mor, 2002 (2ª ed.; 1ª ed. 1856), p. 6.
– MANOEL, D. Diogo Maria d’Orey, Epítome da Família Manoel condes de Atalaya e marqueses de Tancos, S.L., Edição de autor, 2020, pp. 53 e 101.
– Ordens do Dia de 1828, Lisboa, Impressão Régia, 1828, nºs 58 , p. 67 e 63, pp. 71-73.
– ZÚQUETE, Afonso Eduardo Martins (Dir., Coord. e Compil.), Nobreza de Portugal e do Brasil, vol. II, 1984 (2,ª ed.; 1.ª ed. 1960), pp. 329-331.

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